‘O segredo para enfrentar desafios é preservar a equipe’
Muito se discute sobre a herança que a experiência do novo coronavírus pode deixar para o planeta. Trabalho em casa, ensino a distância, menor trânsito e maior tempo para a família? Pode-se mesmo aprender um bocado com a pandemia, que é capaz de ressignificar valores, setores e a forma como nos relacionamos uns com os outros. Para o comércio exterior e a logística, o sars-cov-2 deu um sentido profundo: nunca o transporte de cargas se mostrou tão vital como agora. Por isso, a Craft apostou em preservar a sua equipe, alocada em casa para manter as operações a todo o vapor. Esses são alguns dos temas tratados por Marcus Coelho, diretor financeiro da Craft, na entrevista abaixo.
Em um momento como o atual, em que se aposta no isolamento social e na manutenção de serviços essenciais para a preservação da vida, qual o papel do comércio exterior e da logística? O papel do comércio exterior e da logística neste momento único toma uma relevância maior, facilitando o fluxo de equipamentos e materiais vitais ao enfrentamento da pandemia.
O maior desafio parece ser permanecer saudável, em todos os sentidos. Como manter sua empresa financeiramente saudável nesse momento de pandemia? Mantendo o foco nos negócios, buscando e criando novas oportunidades. Para uma empresa de serviços como a nossa, isso significa manter sua estrutura de pessoal intacta, preservando seu conhecimento e capacidade técnica, mantendo seu DNA. Certamente, estar atento a benefícios governamentais que nos apoiem faz parte da equação para manter a empresa financeiramente saudável.
Como a Craft vem se reinventando diante dos desafios trazidos pela pandemia? Acho que nosso DNA tem isso, reinvenção, e, num momento desses, essa característica se destaca mais. Um exemplo disso são todos os charters aéreos que fechamos nos últimos meses. Não era uma atividade da qual tínhamos a expertise – ninguém até então falava em fretar aeronaves de passageiro, afinal –, mas nos reinventamos, aprendemos. Saímos do zero e na dianteira para um total até agora de quinze aviões fretados, com um conhecimento que fica de bônus para negócios futuros.
A Craft adotou recentemente o cartão de crédito como meio de pagamento. Que vantagens ele traz para a empresa? Entendemos que precisamos oferecer a nossos clientes toda a facilidade e opção de pagamento e, assim, minimizar atrasos. Muitas vezes, um cliente por uma série de motivos não consegue pagar todo o valor devido, e através do cartão ele poderá, por exemplo, parcelar seu pagamento junto à administradora. Quanto mais opções nossos clientes tiverem para nos pagar, acreditamos que menor será a inadimplência.
É possível dizer que o maior desafio já passou? Não acredito ainda que o maior desafio já tenha passado, acredito que o desafio está passando ou, melhor, diminuindo de forma gradual em diferentes partes do mundo, mas não aqui na América Latina. Acredito que teremos uma nova realidade e que levará bastante tempo até que as coisas voltem ao “normal”, se é que esse “normal” voltará a existir.
O que podemos esperar da retomada, quando todos os países reabrirem as suas economias? Acredito que teremos uma volta lenta da economia, com alguns países e regiões avançando um pouco mais, outros menos. Adicionalmente, teremos, acredito eu, uma nova realidade no modo de viver, de trabalhar e de se relacionar.
Países já recuperados da pandemia, como a China, tendem a se beneficiar economicamente? Acredito que sim, porque têm a possibilidade de girar sua economia antecipadamente, ainda que mudando o foco para dentro de casa. Como o mundo está parado e os chineses já não se encontram em estado de reclusão, conseguem proporcionar uma alavancagem econômica interna enquanto outros países seguem travados interna e externamente.
Muito se fala sobre um “novo normal”: o comportamento que o mundo teria após a chegada do novo coronavírus, com maiores cuidados de higiene e distanciamento social. Na sua opinião, que mudanças que vieram para ficar nos negócios? Acho que algumas mudanças serão temporárias, porque os povos têm características diferentes. O distanciamento social para o povo latino, por exemplo, acredito que tenda a ser passageiro. Por outro lado, a pandemia proporcionou quebras de paradigmas que não acredito que terão recuo. A questão do “home office” estou certo de que veio para ficar, claro que de uma forma estruturada, mas dificilmente voltaremos ao tempo em que isso ainda era visto com receio por muitas empresas. As compras eletrônicas, o aumento no fluxo de “deliveries”, o encurtamento do distanciamento por vídeo-conferências, tudo isso veio para ficar com mais força. No nosso segmento por exemplo, que ainda tinha práticas até então e precisou se reinventar, estou seguro de que dificilmente voltaremos ao modelo anterior. Fato é que, de certa forma, criou-se um dinamismo em muitas áreas.